domingo, 9 de agosto de 2015

"Estranho Estrangeiro. Uma biografia de Fernando Pessoa", de Robert Bréchon

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Publicada em 1996, esta é a terceira biografia escrita sobre Fernando Pessoa - posterior às de João Gaspar Simões (1950) e de Ángel Crespo (1988), e anterior à de Richard Zenith (2009 - em rigor trata-se de uma fotobiografia, que me encontro igualmente a terminar) e à autointitulada "uma quase-autobiografia" (2012 - obra que, por um lado, foi muito aclamada, mas que, por outro, foi muitíssimo criticada pelo círculo de estudiosos pessoanos). O seu autor, tendo vivido em Portugal nos anos 1960's (desempenhou os cargos de conselheiro cultural da embaixada de França e de diretor do Instituto Francês), foi um interessado e empenhado divulgador da obra pessoana.
Estranho Estrangeiro é, de um modo geral, e pesem embora alguns erros menores (o que é fácil, dado o biografado ser esquivo em muitos domínios da sua existência) e limitações (algumas das quais minoradas pela investigação entretanto feita), uma biografia equilibrada e - mesmo que o seu autor, na advertência inicial, refira não ter pretensões de objetividade (fala mesmo em "opções tendenciosas") - relativamente objetiva. Se a admiração do biógrafo pelo biografado é patente, anda-se, de qualquer forma, longe da hagiologia (achei curioso o autor confessar a sua "devoção" a Pessoa, mesmo que, como estudioso, seja desconfiado relativamente aos devotos). O autor é, a meu ver, suficientemente ponderado (em especial em questões mais melindrosas - pense-se, por exemplo, no "problema" da sexualidade pessoana), evitando ser gratuita e precipitadamente categórico; julgo que, por outro lado, fundamenta relativamente bem as suas opiniões (nomeadamente quando deduz informação biográfica, ou aspetos do caráter do biografado, da sua obra - as suas angústias, receios, obsessões, contradições, etc.).
A estrutura do texto é, por sua vez, bastante amiga do leitor, uma vez que se reparte em 35 capítulos (contando com o prelúdio e o fecho) de uma dimensão simpática; estes seguem uma sequência cronológica que vai sendo intercalada com capítulos de teor mais temático-analítico.
Em conclusão, um livro que, embora tendo sido escrito há vinte anos (e a investigação ter avançado nesse período de tempo, havendo hoje um maior conhecimento da obra mas também da figura), continua bastante atual e julgo que faz justiça à grandeza de Fernando Pessoa. Para rematar, a leitura desta biografia chamou-me a atenção - num momento em que parto para a revisitação da obra pessoana - para Fausto, texto que conheço mal e que li há já bastantes anos numa edição muito parcelar.

2 comentários:

  1. Recomenda alguma outra Biografia de Pessoa, ou será esta a melhor?

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  2. Das que eu conheço, esta não é das piores; há um livro muito recente (quatro, cinco anos) de um autor brasileiro - que no subtítulo se assume pretensiosamente como "uma quase autobiografia" - que não lhe recomendo em absoluto, pela quantidade de erros, interpretações duvidosas, tendências ora hagiográficas ora caricaturais. Pelo menos isso posso dizer-lhe. Não existem assim tantas biografias de vulto, ainda que tenham aparecido muito bons estudos para aspetos particulares da vida (já não me refiro à obra - nesse campo há todo um universo) de Pessoa. Abraço e boas leituras (e não leve a mal que eu assuma os meus gostos e opiniões).

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