terça-feira, 30 de abril de 2013

"A Epopeia de Mr. Skullion", de Tom Sharpe

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Ainda que talvez menos imediatamente cómico que "Wilt", título de outro livro de Tom Sharpe que li não há muito tempo, "A Epopeia de Mr. Skullion" conseguiu agradar-me. O humor tipicamente britânico - satírico e até sarcástico, com toques de nonsense -, associado a uma escrita ligeira (muitos diálogos, não muito descritivo), tornam a leitura deste livro acessível a um público vasto.
A história relata as peripécias de Skullion, porteiro de Porterhouse (*), num momento em que esse College de Cambridge passa a ser dirigido por um Master (Sir Godber) com ideias de transformação e de reforma. Skullion, em sintonia com as figuras diretivas da instituição, mostra pouca (ou nenhuma) abertura à mudança: o status quo, mesmo que manifestamente anacrónico e retrógrado, é para manter; consequentemente, qualquer gesto no sentido do progresso é entendido como uma agressão às tradições... Porterhouse é, assim, quase um mundo fora do mundo, por estar preso a um conservadorismo extremo mas também a um snobismo e elitismo vazio (o saber académico é menosprezado face ao estatuto conferido pela mera frequência, ainda que sem mérito, em Cambridge); talvez por isso não seja de espantar que - e o paralelismo com episódios recentes da vida nacional é inevitável - as licenciaturas nesta instituição de comprem...
Conseguirá Porterhouse sobreviver às tentativas de mudança? E qual o papel do Porteiro-Chefe Skullion neste contexto conturbado? Ficam as perguntas em aberto como convite à leitura.

 (*) Evidentemente que Porterhouse é um nome ficcional, ainda que um dos colleges mais antigos de Cambridge se chame Peterhouse; o autor, acrescente-se, foi aluno de uma destas instituições de Cambridge.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

"Diários", de Al Berto

 O que dizer destes "Diários", de Al Berto? Em poucas palavras, que nos (a nós, os não estudiosos, os leitores anónimos sem ligação direta ao mundo dos literatos) revelam múltiplas facetas da vida e obra do poeta: textos literários em bruto, paixões e obsessões, relações sociais, literárias e amorosas, meros acontecimentos rotineiros, etc. Em resumo: humanidade; ou, alternativamente, várias tonalidades de melancolia.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

"A Vida Amorosa no Antigo Egipto. Sexo, Matrimónio e Erotismo", de José Miguel Parra Ortiz

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 Enquanto interessado em História, gosto de ler bons livros, que não sejam excessivamente académicos, nem caiam em meras generalidades. Ao iniciar a leitura de "A Vida Amorosa no Antigo Egipto", de José Miguel Parra Ortiz, tinha alguma expetativa (em parte gerada pela leitura da poesia amorosa egípcia), ainda que o autor trate logo, na introdução, de avisar que o seu texto se suporta em poucos e frágeis indícios. Bom sinal, à partida, este reconhecimento honesto.
Ao entrar nos vários capítulos, porém, e apesar de alguns aspetos curiosos e fidedignos, o livro começa a revelar a sua verdadeira essência: abundam raciocínios forçados (interpretações muito subjetivas no sentido que interessa ao autor, quando outras há muito mais pacíficas - há, assim, um ajuste da realidade a uma determinada interpretação) e extrapolações a partir do presente (ainda que algumas possam ser admissíveis, carecem de fundamentação sólida; afinal vários milhares de anos nos separam dessa civilização...), o que - mesmo que num livro para massas - é lamentável.
Como deve ser classificada (se não de ilusionismo assente em diminuta crítica de fontes) a conclusão de que o roubo de um cinzel pode revelar um comportamento fetichista?!? Se, como o autor de quando em quando nos lembra, há pouca informação sobre a intimidade e sobre os comportamentos sexuais dos egípcios, porque é que decidiu abordar os "desvios sexuais" dessa civilização? Apenas porque é um tema "quente", que pode interessar ao leitor comum? Isso justificará as extrapolações sem a existência de indícios minimamente sólidos? Nisto, penso eu, o livro falha redondamente, pois cede a um certo "sensacionalismo" barato (o que as pessoas querem ler) e nem sempre me parece honesto intelectualmente (o autor devia reconhecer com mais veemência a fragilidade das suas conclusões; o mais correto seria mesmo abandonar as conclusões que pecam por falta de sustentabilidade).
Julgo que esta obra podia resultar interessante, se, afastado o joio, se reduzisse a dimensão do texto e com isso se aumentasse a sua verdade. Uma obra de divulgação que cientificamente é pouco rigorosa não me parece um bom serviço ao conhecimento.

terça-feira, 23 de abril de 2013

"Alexandra Alpha", de José Cardoso Pires

José Cardoso Pires, como todos os escritores, tem livros melhores e outros menos conseguidos. Este "Alexandra Alpha", que hoje terminei, é para mim - conjuntamente com "O Delfim" e "Balada da Praia dos Cães" - um dos melhores livros do autor.
O romance retrata o percurso de um conjunto de personagens curiosas (sendo Alexandra a personagem central) nos anos pré e pós-25 de Abril. Através dessas personagens (cujas peripécias vamos acompanhando de forma alternada), Cardoso Pires descreve, de forma irónica e com um humor muito próprio (aquele mesmo humor que tanto me fascina em "O Delfim"), a sociedade portuguesa desse período. Muito recomendável, portanto.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

"Porque não sou Cristão", de Bertrand Russell


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A escrita do filósofo inglês Bertrand Russell, como já constatara noutras obras que dele lera, é relativamente simples de seguir, o que contribui para a clareza das suas exposições. Em "Porque não sou cristão" reúnem-se vários textos (de interesse desigual), que Russell escreveu nas décadas de 1920-50, em que se discute o papel da religião (e nomeadamente do Cristianismo), a questão da existência de Deus, a necessidade de rever certos preceitos ético-morais e sexuais, o confronto entre liberdade de pensamento e ideologias dogmáticas (sejam elas religiosas ou políticas) - um conjunto temático que ultrapassa, deste modo, o título que aparece na capa.
Este não é um livro que se possa ler a-historicamente, isto é, indiferentemente ao período em que foi escrito (recorde-se: ascensão de regimes totalitários na Europa, II Guerra Mundial, existência do regime comunista da União Soviética). Se a questão da existência ou necessidade de Deus é intemporal, porque irresolúvel, ou sempre atual o debate sobre a liberdade de pensamento e expressão, outras questões há (nomeadamente as que se referem a questões ético-morais) que se encontram ultrapassadas (dou como exemplo questões como a nudez, o adultério, a homossexualidade - tabus de outras eras que foram perdendo a razão de ser). Tal não significa, porém, que as posições de Russell, à data da publicação dos textos, não fossem inovadoras, e até algo avançadas (ao ponto de a sua nomeação em 1940 para uma instituição universitária americana ter gerado uma tremenda polémica, instigada pelos setores mais puritanos da sociedade). A evolução das sociedades ocidentais, e a ultrapassagem dos medos resultantes dos totalitarismo e da bipolarização do mundo (medos que algumas vezes desembocaram em exacerbações de intolerância, do género do macarthismo), é que retiraram a força original às suas posições cívicas. Nota-se também que algumas das referências científicas do autor, especialmente no domínio da psicologia, se encontram há muito desatualizadas.
Talvez o ponto mais frágil do livro seja mesmo na discussão da sensível questão do papel da religião e da existência ou necessidade de Deus: o autor enumera os pontos fracos que servem de prova à existência de Deus e à imortalidade da alma; refere as imperfeições e contradições do Cristianismo e os constrangimentos resultantes de certos preceitos da moralidade cristã (como no caso da vivência da sexualidade); associa a religião à recusa do progresso, mas também ao facto de esta, a seu ver, se fundar no temor (o medo do castigo, o peso do pecado, e sobretudo o medo da morte! - aspetos que condicionam o Homem); defende, por fim, que a  felicidade humana é possível sem religião. Para contrapor a argumentos provindos da teologia, Russell nem sempre tem a profundidade esperada - alturas há em que achei que os seus textos, ainda que conduzidos pelas suas convicções, eram algo simplistas. Ainda assim, em muitos pontos, Russell revela a força da sua inteligência.

"Amar a Vida Inteira", de Casimiro de Brito


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"Amar a Vida Inteira", de Casimiro de Brito, é o terceiro volume do seu "Livro das Quedas" - «(...) poema em que trabalharei no resto dos meus dias», de acordo com palavras suas. A poesia de Casimiro de Brito tem sido por mim explorada nos últimos anos, sem que em algum momento tenha diminuído a minha curiosidade pelas obras que ainda não conheço - pelo contrário, quanto mais leio, mais quero ler.
Este livro - que até na imagem da capa (todos os livros publicados nesta coleção de poesia têm capas de idêntico bom gosto) consegue ser agradável - trata de amor e erotismo, conceitos que, talvez, não tenham razão de ser separados (estão intimamente ligados, ainda que o erotismo figure mais timidamente no acervo de poesia amorosa). Poemas quase sempre curtos, muitas vezes diretos e tautológicos - «Amo-te porque deixei de ter pressa».
Seguramente - tal como todos os volumes do "Livro das Quedas" - um livro a revisitar.

sábado, 13 de abril de 2013

"O Silêncio dos Livros", de George Steiner (seguido de "Esse Vício Ainda Impune", de Michel Crépu)

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"O Silêncio dos Livros", de George Steiner, é uma reflexão sobre o valor da palavra escrita (e depois impressa) como suporte do saber humano ao longo da História, a incerteza quanto ao futuro dos livros (associada à ideia de fragilidade dos mesmos), da crescente impossibilidade do silêncio necessário para os escutarmos (numa sociedade ruidosa que, na sua visão, tem revelado a tendência a desprivilegiar o livro), enfim, de paixão e de apreensão.
Ao ler os ensaios de George Steiner, ainda que possa discordar de vários dos seus pontos de vista, não consigo deixar de sentir vontade de seguir algumas das referências culturais (literárias, artísticas, filosóficas) que ele cita. Independentemente do valor dos seus textos, a sua erudição é inegável; assim, ler as obras de George Steiner resulta quase sempre num ganho.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

"A Sociedade Romana", de Paul Veyne

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"A Sociedade Romana", de Paul Veyne, que acabo de reler, não é exatamente uma síntese - como o título poderá indiciar - mas antes um conjunto de artigos sobre o tema. Não que isto retire valia à obra, pois nesse conjunto de textos são-nos apresentados vários assuntos de interesse, tais como a escravatura, o estatuto dos libertos, a procura de ascensão social pela posse de terra, a autarcia como valor social (ainda que não exatamente como realidade económica), o amor e a sexualidade, entre outros.
Para muito breve, planeio reler outros dois livros sobre o período romano: um sobre Pompeia e outro sobre a queda do Império Romano.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

"Poemas de Amor do Antigo Egipto"

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"Poemas de Amor do Antigo Egipto" é um dos livros de poesia mais belos que possuo, e que revisito de tempos a tempos. Alguns dos versos desta curta mas deliciosa obra encontram-se entre os meus favoritos: «E quando ela entreabre os lábios para beijar / Fico com a cabeça leve, fico ébrio sem cerveja», ou «Com os seus braços à minha volta / Sinto-me como se pertencesse ao faraó».
São versos com mais de três mil anos, mas que nos mostram que há aspetos da vida humana que permanecem mais ou menos imutáveis. Leia-se, a título de exemplo, o poema que se segue:
Andar a mergulhar e a nadar aqui contigo
Dá-me a oportunidade de que eu estava à espera:
Mostrar os meus atributos
Ante olhar apreciador.

O meu fato de banho do melhor material,
De tecido puro,
Agora que ficou molhado
Vê-lhe a transparência,
Como está colado ao meu corpo.

Tenho de admitir que te acho atraente,
Afasto-me a nadar mas logo venho para trás,
A chapinhar, com conversas,
Só desculpas para ter a tua companhia.

Olha! Um peixe doirado a brilhar entre os meus dedos!
Vê-lo-ás melhor
Se te chegares para aqui,
Para o pé de mim.

domingo, 7 de abril de 2013

"A Ideia de Europa", de George Steiner

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Em pouco mais de uma hora se lê "A Ideia de Europa", curto ensaio de George Steiner. Talvez mais do que o texto do autor, agradaram-me bastante as palavras introdutórias de Rob Riemen.

sábado, 6 de abril de 2013

"O Algarve Económico, 1600-1773", de Joaquim Romero Magalhães

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Ao fim de alguns meses de leituras intermitentes, cheguei ao termo de "O Algarve Económico, 1600-1773", texto que corresponde à dissertação de doutoramento de Joaquim Romero Magalhães.
Se é um texto interessante? Efetivamente, em alguns momentos consegue sê-lo (especialmente interessantes para mim foram os capítulos relativos às epidemias e à sociedade). Porém, outros momentos - sobretudo os capítulos sobre a produção - foram de leitura algo cansativa - o que, por vezes, me levou a deixar este livro em pousio.
Termino esta nota referindo que achei curioso o modo singular de escrever do autor. Ainda que já tivesse lido algumas coisas de Romero Magalhães, nunca me apercebera antes desta sua originalidade.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

"Crime e Castigo", de Fedor Dostoievski

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"Crime e Castigo" é um daqueles clássicos: podemos lê-lo duas, cinco, dez vezes - este romance conseguirá sempre conquistar-nos. De que trata? Em poucas palavras, de crime e expiação. Mas trata também dos "humilhados e ofendidos" da sociedade de S. Petersburgo, da "psicologia" do criminoso e do seu perseguidor, de honra e desonra, de humildade e altivez.
Recentemente li "Os Possessos" e reli "Os Irmãos Karamazov"; após a releitura de "Crime e Castigo", confirmei que esta é talvez a mais viciante obra do autor (ainda que possa não ser necessariamente a que prefiro), por culpa não só do tema do romance, mas sobretudo da escrita magnífica de Dostoievski. Um livro, pois, a visitar muitas vezes.