quarta-feira, 22 de maio de 2013

"Morte vivida e economia da salvação em Torres Novas (1670-1790)", de Ricardo A. Varela Raimundo

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A dissertação de mestrado em História Moderna de Ricardo A. Varela Raimundo, intitulada "Morte vivida e economia da salvação em Torres Novas (1670-1790)", aborda um tema que, para muitas pessoas, poderá ser algo incómodo: a morte - assunto tantas vezes relegado para o domínio do voluntário e perturbado silêncio.
Na peugada da melhor tradição historiográfica (lembrem-se os trabalhos pioneiros de Michel Vovelle e Philippe Ariès), este estudo serve-se de um conjunto de manuais de espiritualidade (que ensinavam os cristãos a "bem morrer", isto é, a preparar-se para esse momento último e consequente além-vida) e de algumas centenas de testamentos, e suporta-se num vasto conjunto de outros estudos (de "caso") tanto nacionais como estrangeiros (a vasta bibliografia - e o seu manifesto domínio - é um dos pontos fortes deste texto), para procurar responder às questões: Como era vivida a morte em Torres Novas dos finais do século XVII até ao século XVIII? De que forma investiam os torrejanos na sua salvação?
Claro que tratar destes assuntos tanatológicos fundamentalmente através de uma fonte - os testamentos - acarreta sempre alguns riscos (há sempre a questão da representatividade da fonte: até que ponto é que os cerca de 700 testamentos estudados são representativos de uma população estimada de 14 mil pessoas?), sobretudo no que toca a algumas conclusões (nos casos em que a documentação de base não permite respostas completamente definitivas, ou as variações detetadas são demasiado ténues). Em todo o caso, na minha ótica, Ricardo Raimundo fez uma boa caracterização da fonte utilizada e dos seus "produtores" (melhor dizendo, dos testadores), bem assim como das motivações destes para testar; posteriormente a esse esforço, procedeu de forma rigorosa à análise de múltiplos aspetos: escolha de intercessores celestes pelos testantes, da mortalha, da sepultura, das características do cortejo fúnebre, das estratégias de interceção pela alma, etc. O discurso é fluído e, ainda que académico, acessível ao público em geral.

Para terminar, devo dizer que achei particularmente interessante o capítulo relativo ao "Discursos sobre a morte", em que se faz uma muito bem conseguida síntese, partindo-se da literatura devota, sobre o "viver para bem morrer"; os aspetos doutrinais - chamemos-lhes assim - que estão por trás da mentalidade vigente nos séculos XVII e XVIII ficam claramente elucidadas nestas páginas.

terça-feira, 21 de maio de 2013

"Balada da Praia dos Cães", José Cardoso Pires

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Depois de "Alexandra Alpha", decidi reler a "Balada da Praia dos Cães", de José Cardoso Pires.
Porquê a releitura deste livro? Bem, julgo que, após ler um livro que tanto me agradou, o regresso à literatura daquele autor era inevitável. A escrita de Cardoso Pires é, neste livro, cheia de tiques e trejeitos linguísticos, rifões e tautologias de tasco, subentendidos - enfim, pauta-se por um humor muito próprio, tantas vezes mordaz, sardónico.
Também a construção da história deste romance (a investigação do assassínio de um militar que se havia evadido da cadeia, onde estivera preso por tentativa de golpe militar contra o regime salazarista) me parece original: a existência de duas linhas cronológicas paralelas (a do crime e a da investigação, na ótica do chefe de brigada da Polícia Judiciária, Elias Santana), o que se traduz num gradual esclarecimento do trama (inicialmente de contornos difusos, o crime vai-se iluminando). Esta duplicidade cronológica existe igualmente em "O Delfim".
Cardoso Pires tem, na minha opinião, alguns dos seus livros entre os mais interessantes da literatura nacional; "Balada da Praia dos Cães" é, seguramente, um desses livros.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

"Resumo - a poesia em 2012", de vários autores

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Excelente iniciativa, a da edição anual desta acessível coletânea de poesia portuguesa. "Resumo - a poesia de 2012" reúne mais de uma centena de poemas, editados em livro ou revista e escolhidos por quatro poetas, de um conjunto de quase cinquenta autores (desde os mais jovens até aos já consagrados).
Julgo que a leitura desta curto livro é obrigatório para todos aqueles que, como eu, gostam de poesia mas não podem (seja por falta de acesso aos livros ou meios para os adquirir) acompanhar tudo o que se produz. É assim, uma ótima via para aceder à Poesia.

"Cosmos", de Carl Sagan

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Aceito: há livros de divulgação científica relativos a astronomia/astrofísica mais recentes do que este "Cosmos", de Carl Sagan; certamente que nos últimos trinta anos vários conceitos dessas ciências ganharam precisão, em resultado de novas observações e missões espaciais; o conhecimento nas restantes ciências tem, nas últimas décadas, evoluído muito (a título de exemplo, pense-se nos avanços no domínio da genética), bem assim como a tecnologia.
Ainda assim, penso que este livro ainda pode ter interesse para quem não tem grandes conhecimentos sobre o assunto. A linguagem é simples mas, parece-me, cuidada. Para além deste aspeto, o facto de introduzir conhecimentos da literatura e da história da humanidade (as seculares cosmogonias como antepassadas de teorias científicas mais recentes, não deixam de ser lembradas pelo autor), ou das ciências da vida e da Terra (recordando-nos que o conhecimento do universo está ligado à própria história da nossa evolução enquanto espécie), tornam a obra bastante interessante. Ao longo dos seus capítulos não pude deixar de sentir que viajava entre o infinitamente pequeno (as células, os átomos, os elementos do átomo) e o infinitamente grande (as galáxias, o universo).
Evidentemente que aceito as críticas que possam ser apontadas ao livro, mas para um leigo (como o meu caso) foi uma leitura bastante fecunda...

terça-feira, 14 de maio de 2013

"Rua de Nenhures", de Pedro Tamen

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"Rua de Nenhures", o mais recente livro do poeta Pedro Tamen, trata de amor (não apenas de amor lírico, mas também de amor físico). O estilo poético do autor é - para mim -, bastante simpático, pelo que tem de leveza e, em certas passagem, de uma talvez ilusória simplicidade.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

"As Lições dos Mestres", de George Steiner

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Mais um interessantíssimo ensaio de George Steiner. Desta vez, as suas reflexões andam em torno da figura do Mestre (ou seja, daquele que transmite o seu conhecimento), considerando a sua relação com o saber mas também com os seus discípulos; o saber transmitir e o saber escutar (e por vezes, ultrapassar ou mesmo trair) as lições dos Mestres. Inúmeras são as figuras (principalmente da cultura ocidental) referidas por Steiner. Um livro inteligente, que se lê com muito agrado.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

"O Povoado de Santo Ovídio (Fafe)", de Manuela Martins

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 "O Povoado de Santo Ovídio (Fafe)", de Manuela Martins, é o resultado dos trabalhos arqueológicos realizados entre 1980 e 1984. Não sendo muito frequente ler estudos de arqueologia tão específicos (e técnicos), julgo que esta foi uma leitura útil: por um lado, aprendi alguma coisa sobre a metodologia do trabalho arqueológico, tão visível neste estudo; por outro lado, contribuiu para que aprendesse mais qualquer coisa sobre a cultura castreja, assunto do meu interesse.