domingo, 15 de novembro de 2015

"Chet Baker pensa na sua arte", de Enrique Vila-Matas

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Chet Baker pensa na sua arte não é exatamente um romance - e o fantástico (é mesmo isso que me vai fascinando na obra de Vila-Matas) é que tal não constitui desvantagem nenhuma. Se, por exemplo, o meu mui amado Bartleby & Companhia me encanta pela deambulação ensaística no mundo dos "escritores do não" (os autores de uma só obra,  por exemplo); se Doutor Pasavento (livro que, aliás, muito me agradaria poder reler) me fascinou pela comunicação quase filosófica com a obra de Robert Walser; se, mais recentemente, me senti convidado/desafiado a ler Ulisses, de James Joyce (de quem apenas lera Gente de Dublin), após o seu Dublinesca;  este Chet Baker pensa na sua arte (a aqui a referência ao trompetista americano é praticamente estética e quase acidental) agradou-me por questionar os cânones do romance (Enrique Vila-Matas pensa na sua arte?), mas também por me desafiar de novo a abordar certas obras e autores (é longa a lista: Gombrowicz, Gadda, Gaddis, por exemplo - engraçado: todos nome começados por "G").
Assumidamente intelectual, esta obra é, a meu ver, caracterizada pela desconstrução: o autor recorre em permanência à reflexão sobre a literatura (tradição/cânone versus rutura/experimentação);. Aparentemente para Vila-Matas escrever é uma forma de homenagem às Letras; por tal razão não me parece despicienda ou pedante a constante citação às suas referências culturais (onde se incluem os portugueses Pessoa, Lobo Antunes e Herberto Helder) - Joyce, autor do literariamente radical (e por isso mesmo possivelmente intraduzível) Finnegans Wake, é apontado como ícone do extremo arrojo (em contraste com os escritores mais preocupados com "contar uma boa história").
Vila-Matas tem, de facto, sido um autor valioso no meu percurso como leitor, especialmente por me incentivar à descoberta de outros escritores "cultos"; o seu "estilo" - a sua forma de escrever - meditativa e inteligente, que funde o romanesco com o ensaístico agrada-me bastante. Não tendo este Chet Baker pensa na sua arte sido dos melhores livros que li do autor, ainda assim achei-o extremamente estimulante, desafiante, mas também (de uma forma superior e subtil) divertido.

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