quinta-feira, 30 de junho de 2016

"Moby Dick", de Herman Melville

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Há já vários anos que tencionava ler este Moby Dick, mas, por um motivo ou por outro, fui sempre pondo de lado o livro. A história, porque sobejamente conhecida, não poderia ser a motivação para a leitura; já a escrita de Melville, que conheço de Bartleby, o Escrivão e de Billy Budd (que pretendo reler em breve), pelo contrário, era um argumento de peso.
Por fim, há poucas semanas, predispus-me a levar o livro para casa (tomado de uma biblioteca familiar) e a lê-lo quanto antes. A edição que tinha à disposição não prometia muito, mas era a possível. Fui constatando, ao longo das três semanas de leitura, que esta edição, dirigida a um público jovem, estava pejada de gralhas (parece-me mauzinho fazer-se uma tal edição - com, sublinhe-se, a pretensa finalidade de convidar as novas gerações a ler - sem qualquer revisão de texto; bem sei que se trata de uma questão de pura economia, para tornar barato o produto final, mas ainda assim)... Na verdade, pensei em desistir e lançar-me na procura de outra edição, mas, ao embrenhar-me na obra, a vontade de continuar prevaleceu.
Por vezes, quando se fala de Moby Dick com outros leitores vem à tona a ideia preconcebida de se tratar de uma obra de caráter infanto-juvenil, e, portanto, talvez pouco interessante; o facto do enredo ser, à partida, mais ou menos conhecido também não ajuda a despertar o interesse. Porém, quem descarta esta obra, descarta uma escrita magnífica e uma abordagem narrativa, a meu ver, bastante original.
Moby Dick tem um dos mais memoráveis arranques: "Call me Ishmael" (ou "Chamem-me Ismael"); todo o primeiro parágrafo é, aliás, extraordinário. É através do olhar de Ismael, um ex-mestre escola na sua viagem inaugural num navio baleeiro, que o leitor acompanha a tripulação do Pequod, capitaneada pelo obcecado e brutal Ahab, na caça às baleias e na perseguição ao temível cachalote Moby Dick... Mas mais do que este relato, Melville brinda-nos com o seu enciclopedismo: múltiplos são os capítulos sobre as particularidades da caça à baleia, sobre a anatomia dos espécimes caçados, sobre as partes constituintes das embarcações baleeiras, sobre os hábitos da vida marítima, entre outros aspetos. As referências bíblicas (e o uso de termos ligados a esse universo - como seja chamar "leviatã" às baleias) dão um tom especialmente interessante à narrativa.
Há também nesta obra uma vertente documental, que me não parece desprezível, uma vez que retrata uma realidade passada: entretanto, a caça à baleia evoluiu tremendamente, acabando por ser proibida a nível internacional. Curiosamente, Melville, que apenas conhecera a caça tradicional (a matança era feita através de arpões lançados manualmente por pequenas embarcações conexas ao navio principal - longe, portanto, da caça industrial, caracterizada por navios-fábrica equipados com arpões contendo explosivos lançados através de canhões), diz, através do narrador, não acreditar no declínio da baleia em resultado da baleação.
Concluo: considero que Moby Dick é um daqueles clássicos justamente reputados (ainda que - é essa pelo menos a minha impressão - algo menosprezado). Melville, se já era uma referência para mim, muito graças ao seu delicioso Bartleby, o Escrivão, tornou-se um escritor ainda mais estimado. Futuramente, tenciono, se me for possível, explorar outras obras do autor.

terça-feira, 21 de junho de 2016

"Manual de Prestidigitação", de Mário Cesariny de Vasconcelos

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De quando em quanto, regresso a Cesariny. E, na verdade, faz todo o sentido regressar, uma vez que o autor, se nos deixarmos enlear no seu jogo, nos faz duvidar do sentido do próprio sentido - ou, melhor, nos mostra que o dito sentido pode ser um artifício. Talvez nisso, afinal, resida a piada - o prazer - de ler Cesariny.
Deste Manual de Prestidigitação não ouso dizer muito; julgo que, aparte os seus méritos literários, este volume tem um título delicioso. Não sendo a obra cesariniana que prefiro, é, ainda assim, muito do meu agrado.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

"O Cruzeiro do Snark", de Jack London


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Recordo-me bem das prazerosas horas que passei, há já uns bons anos atrás, lendo este O Cruzeiro do Snark. Não se trata, como talvez nenhuma das obras de London, de um livro fundamental, brilhantemente escrito, ou tremendamente original; trata-se sim de um livro de viagens, o que há partida aponta para uma escrita mais escorreita, simples, e para um leitura mais descontraída.
O Cruzeiro do Snark, escrito ao longo da viagem, desdobra-se em capítulos que relatam as experências vividas nos vários locais visitados (Havai, Ilhas Marquesas, Ilhas Salomão, etc.), e noutros centrados em assuntos ora mais abrangentes, ora mais específicos (as cartas recebidas pelo autor de seguidores seus oferecendo-se para a tripulação; o "inglês" usado para falar com as populações do Pacífico, etc.).
Entusiasmado pela aventura de viajar pelos mares, London lançou-se na construção de um veleiro; porém, ainda que tivesse procurado muni-lo de matérias-primas e equipamento de qualidade, acabou por iniciar a viagem, após vários adiamentos, com um navio defeituoso. Por outro lado, se inicialmente previa fazer uma volta ao mundo ao longo de vários anos, viu as suas expetativas goradas quando se multiplicaram os problemas de saúde dos tripulantes - a viagem teve, pois, um um final antecipado...
Se bem que em certos aspetos este livro se mostre antiquado (sobretudo quando London entra em reflexões sobre doenças, à data pouco compreendidas), este livro tem um inegável mérito documental, ao dar-nos um relato de certas zonas do Pacífico ainda relativamente preservadas da aculturação ou do turismo. Pessoalmente achei interessante ainda o piscar de olho à obra de Melville (num momento em que me encontro a ler Moby Dick), que também se debruçou sobre o mesmo espaço geográfico em algumas das suas obras...