sábado, 17 de agosto de 2013

"Retrato do Artista Quando Jovem", de James Joyce

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Publicado originalmente entre 1914 e 1915, Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce, trata do percurso de busca e formação de identidade de Stephen (ou Estevão, na tradução lida) Dedalus – personagem que aparecerá na obra maior do autor, Ulisses, recentemente lido.
Assim, ao longo das páginas desta obra acompanhamos a infância, adolescência e a entrada na vida adulta de Stephen, educado em instituições jesuítas. Paralelamente à evolução da escrita de capítulo para capítulo (em crescendo), o leitor é confrontado com o desenvolvimento e amadurecimento do personagem principal, tanto a nível moral como intelectual, tendo como pano de fundo todo o ideário tradicional católico (leiam-se, por exemplo, os excertos extremamente escolásticos sobre as consequências infernais do pecado). À queda do personagem principal segue-se o sentimento de culpa e o medo (fortemente interiorizados ao longo dos anos); à expiação segue-se a consciencialização do caráter artificial (e eventualmente vazio, mecânico) do ritual; por fim, à indiferença segue-se a libertação mas também a descrença (não só na religião, mas em valores com a família ou a nação – num contexto, atente-se, de luta pela independência irlandesa), a desilusão e consequentemente a solidão (do artista).
Retrato do Artista Quando Jovem fez-me lembrar, em certas passagens e por diversos motivos, outros livros – O Jovem Törless, de Robert Musil (pelo ambiente colegial em que a ação decorre); O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz (pela discussão sobre o papel tradicional da religião católica (e seus agentes) na sociedade de finais do século XIX, inícios do século XX); Crime e Castigo, de Fedor Dostoievski (sobretudo em certos momentos de matiz mais psicológica, em que pecado e culpa são os motores da narrativa).
Tendo gostado bastante deste livro, tenho que dizer que, embora bem articulado com os restantes (em termos da lógica da história), achei faltar alguma intensidade ao último capítulo. Ainda assim, o Stephen que vemos formado no último capítulo é congruente com o que acompanhamos em Ulisses.

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