quarta-feira, 20 de agosto de 2014

"Ulisses", de James Joyce

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Ao meu pai

Acabo de reler Ulisses, ao fim de um ano da primeira leitura. O que dizer? Que é, de facto, uma obra-prima. Ao ler o texto que escrevi há um ano atrás (siga-se o link), quase nada há a dizer de novo: é um livro de facto inovador, provocador e (há que assumi-lo) algo difícil - mas, por isso mesmo, desafiante, fascinante, inebriante!
Quando li Ulisses pela primeira vez, senti uma dificuldade adicional na tradução de António Houaiss: a tentativa de traduzir o intraduzível, a adaptação forçada de trocadilhos do inglês para português, a construção algo confusa de algumas frases, até mesmo o tom brasileiro do seu português (tanto ao nível da gramática como do vocabulário), entre outros aspetos, tornaram árdua (em especial em certos capítulos de índole mais experimentais) o meu esforço de compreensão. Na altura, saí do livro com uma sensação de fascínio, mas também de impotência no que toca ao entendimento de certos aspetos - sem ter, no entanto, a noção exata do peso da tradução nessa sensação... Na altura estipulei seguir, numa futura releitura, a tradução de João Palma-Ferreira (a única, à época, em português europeu).
Porém, foi editada no final do ano passado uma nova tradução da obra de Joyce, da autoria de Jorge Vaz de Carvalho. Se já estava motivado a revisitar a obra, apesar de a ter lido há relativamente pouco tempo, o aparecimento desta nova tradução (que recebeu algumas críticas favoráveis) fez-me regressar mais cedo que o previsto a Ulisses.
O que dizer, pois, desta nova leitura? Apenas que a tradução faz toda a diferença! A obra torna-se muito, mas mesmo muito mais inteligível. As dificuldades formais da mesma podem manter-se, bem assim como a obscuridade de algumas das suas referências (culturais, históricas, políticas, literárias, etc.), mas o facto de não termos que lutar contra o português já é uma enorme vantagem. A tradução é, assim, fundamental para a compreensão deste livro, sabendo, claro está (e o próprio tradutor o reconheceu numa entrevista que pude seguir na televisão), que na mesma se perdem sempre aspetos do original (mas o que é que isso interessa, se a obra se torna muito mais agradável de ler?).
Para um dos leitores que mais me influenciou (o meu pai), porém, esta tradução chegou algo tarde. A tradução de Houaiss, que era a tinha na sua biblioteca (foi o seu exemplar que li há um ano atrás), constituiu um entrave demasiado grande para levar a cabo a odisseia da sua leitura até ao fim; a tradução de António Houaiss, ao (como agora tão bem percebi) acrescentar obstáculos à compreensão, dificulta a possibilidade de se retirar prazer da obra.
Porque Ulisses, para quem se deixar envolver, é uma obra deliciosa, cheia de pormenores e cultural e intelectualmente rica! Talvez um dia destes a releia, mas sei de antemão que não preciso duma terceira leitura para descobrir o prazer do livro...!

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